A Aventura Social realiza nos primeiros dias do próximo mês dois encontros dedicados à promoção daeducação para a saúde e bem-estar dos adolescentes. A 1 de Novembro, 300 jovens juntam-se à rede Dream Teens, para dar voz às suas ideias de intervenção cívica, numa sociedade cujo contextosocioeconómico lhes vem estreitando as perspectivas para o futuro. Entre os dias 2 e 4, reúne-se também na capital a rede internacional Health Behavior in School-Aged Children, cujo relatório paracompreender os estilos de vida e comportamentos de saúde física e mental dos adolescentes será publicado nas próximas semanas
A Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa é palco de um encontro realizado por jovens, para jovens, a decorrer no dia 1 de Novembro, com o objectivo de dar voz à sua visão sobre diversos temas relacionados com a participação social e cívica em matérias como a saúde, a educação, a responsabilidade social ou a cidadania.O II Encontro Nacional do projecto Dream Teens (DT) vai reunir cerca de 300 jovens da rede lançada pela Aventura Social, equipa que, desde 1987, promove na FMH, e sob a coordenação da professora Margarida Gaspar de Matos, projectos de investigação e monitorização com impacto nas políticas de promoção e educação para a saúde dos jovens.
O Dream Teens arrancou em 2014 e integra jovens com idades entre os 11 e os 19 anos de todo o País, que debatem, em rede, seis grandes áreas temáticas: Saúde mental e bem-estar; Família e apoio social; Sexualidade e relações interpessoais; Estilo de vida, nutrição, sono e actividade física; Dependências com e sem uso de substâncias (álcool, tabaco, drogas, internet); Cidadania activa e participação social.
Com recurso às actuais tecnologias de comunicação e informação (SMS, Skype, Facebook, Instagram, blogs, etc.) o grupo de jovens portugueses estudou, discutiu e partilhou, ao longo de um ano, ideias e realidades pessoais sobre estas matérias. Em Novembro de 2014, o Dream Teens realiza o seu primeiro encontro, em Lisboa, e elabora um conjunto de 30 recomendações para o Governo, que entrega ao Secretário de Estado da Saúde.
Já em 2015, os jovens colaboram no Relatório Internacional “Health Behavior in School-Aged Children”, da Organização Mundial de Saúde (OMS), e apresentam e comentam depois, nas suas escolas e em autarquias, o Relatório Nacional a ele associado: “A saúde dos adolescentes portugueses em tempos de recessão. Escrevem ainda, em colaboração com a equipa Aventura Social, o livro “Adolescentes – navegação tranquila em águas desconhecidas”, que será apresentado no Encontro de 1 de Novembro.
O evento integra um programa de apresentações em vídeo e debate, com uma sessão por cada um dos temas trabalhados, nas quais os Dream Teens partilham, entre outras coisas, o trabalho que desenvolveram no âmbito da rede e o que desejam para o futuro, “para realizar os sonhos”. O Congresso Científico “Sub-19” reúne ainda investigadores de vários países, ligados à Rede HBSC, e convidados nacionais que irão participar na qualidade de observadores.
O encontro inclui também um convívio inter-gerações “Meet the Champions”, onde várias personalidades de destaque nacional confraternizarão com os Dream Teens, estando confirmados, na abertura e no encerramento das jornadas, o Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, o Alto Comissário das Migrações, Pedro Calado, o presidente da Faculdade de Motricidade Humana, José Alves Diniz e a professora Maria do Céu Machado, entre outros oradores convidados.
Os indicadores de saúde e bem-estar dos adolescentes agravaram-se em 2014 no nosso País, denotando mal-estar psicológico e desesperança no futuro
Face ao sucesso inicial do projecto Dream Teens, que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, da Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde – SPPS e da Faculdade de Motricidade Humana, em colaboração com outras instituições, a Aventura Social quer agora lançar duas novas redes de ‘dreamers’: os mais velhos, (+65 anos, os Dream Yold) e os mais novos (- 11 anos, os DreamKids) vão contar com o apoio dos DT, como adianta, em entrevista ao VER, a coordenadora do projecto e professora na FMH (entre outras docências), Margarida Gaspar de Matos.
A também coordenadora geral em Portugal do estudo HBSC antevê ainda a “reunião de Outono” desta rede internacional, que será este ano organizada pela equipa de investigação portuguesa, e terá lugar na Calouste Gulbenkian, entre 2 e 4 de Novembro.
O relatório Health Behaviour in School-aged Children, cuja próxima edição “será publicada nas próximas semanas”, visa compreender os comportamentos de saúde física e mental dos adolescentes em idade escolar, os seus estilos de vida e os contextos sociais. Iniciado em 1982 por investigadores da Finlândia, Noruega e Inglaterra, este estudo foi posteriormente adoptado pela OMS. Actualmente, participam já no projecto 44 países, incluindo Portugal (membro associado desde 1998). Os estudos da rede internacional HBSC são realizados de 4 em 4 anos, junto de alunos de escolas públicas do ensino regular. Em Portugal a 5ª edição foi realizada em 2014.
No âmbito do encontro a realizar em Lisboa, a docente e investigadora na área da saúde da criança e do adolescente, na Faculdade de Medicina da Universidade escocesa de St. Andrews, Candace Currie, realiza uma conferência a não perder, no dia 4 de Novembro.
Como comenta os resultados do HBSC 2014, quanto aos estilos de vida e comportamentos adoptados pelos adolescentes em Portugal, relativamente à família, amigos, escola e saúde física e psicológica, entre outros factores auscultados no estudo?
Desde 2002 que em Portugal, como em toda a Europa, os indicadores de saúde e bem-estar dos adolescentes tinham vindo a melhorar. Em 2014, em paralelo à recessão económica, esta melhoria parou a nível nacional e houve um agravamento de indicadores associados a saúde mental e à esperança no futuro.
Os adolescentes reportaram menos satisfação com a vida, mais mal-estar psicológico, mais desesperança. Dos resultados saliento ainda o afastamento dos jovens face à escola e a sua percepção do fraco interesse das aulas, bem como as suas preocupações, que incluem a escola (a qual, contudo, não é vista como um “apoio”), os fracos padrões alimentares e de sono e, como disse, a desesperança.
Entretanto, a nova edição do relatório internacional HBSC sairá dentro de semanas.
Como surgiu a ideia para a criação do projecto Dream Teens, com o objectivo de dar voz a uma equipa jovem de investigadores sobre a realidade nacional, ao nível das políticas públicas que os afectam, em áreas como comportamento e saúde?
Surgiu em 2014 e foi de imediato apadrinhada pela Calouste Gulbenkian. Após tantos anos a trabalhar com adolescentes, pareceu óbvio que a Fundação tinha de ser ” integrada na equipa”. E aconteceu!
Apesar de a ideia ser inovadora, até em termos internacionais, e ter merecido o interesse de um grupo da OMS ligado ao Youth Engagement, por ter sido considerado uma boa prática, a ideia global da participação activa das populações na definição de políticas que lhe dizem respeito é muito defendida por organismos internacionais, e alinhada com os direitos humanos.
Quais foram as principais ideias debatidas pelos jovens, tendo por base os resultados do relatório nacional HBSC “A saúde dos adolescentes portugueses em tempo de recessão”?
Os dreamers organizaram-se em seis grandes áreas temáticas: Saúde mental e bem-estar; Família e apoio social; Sexualidade e relações interpessoais; Estilo de vida, nutrição, sono e actividade física; Dependências com e sem uso de substâncias (álcool, tabaco, drogas, internet); Cidadania activa e participação social. E foi-lhes pedido que comentassem os resultados do relatório nacional de 2014 em relação a estas áreas.
Que expectativas tem para o evento Dream Teens a 1 de Novembro, que promete ser um encontro de reflexão e partilha de práticas inovadoras para a participação social dos jovens na área da saúde?
Haverá apresentações e debate de ideias, convívio com adultos de referência (‘Meet the champions’), cientistas e políticos, e os lançamentos do livro e do canal MEO, para além de outras actividades culturais, artísticas e cientificas. Esperamos reunir 300 jovens e cerca de cem adultos (observadores).
Lamentavelmente, e apesar do grande apoio e envolvimento das escolas e autarquias, algumas autarquias afinal não asseguraram o transporte dos jovens, que assim ficarão “em terra”. Mas o evento vai ser transmitido em streaming. E é de salientar, não obstante, que muitas autarquias aderiram e até aceitaram transportar Dreamers de outras partes do país, recolhendo-os no seu caminho para Lisboa.
Que antevisão faz das apresentações que os jovens farão no Encontro, tendo em conta um contexto socioeconómico (crise, desemprego jovem, emigração) que lhes vem estreitando as perspectivas de vida futura, e qual é a relevância de fazer os jovens acreditar que são os protagonistas do seu próprio destino?
Para cada um dos seis grupos de trabalho os jovens apresentarão um vídeo com os seus trabalhos e debaterão a área temática em que participam com a audiência.
A Aventura Social vai lançar duas novas redes de ‘dreamers’: os Dream Yold (+65 anos) e os DreamKids (- 11 anos)
Quanto à relevância de fazer os jovens acreditar que são os protagonistas do seu próprio futuro, empoderando-os para que façam as suas próprias escolhas e transformem o mundo com as suas ideias, é essa a nossa expectativa e eles corroboram-na.
Contrariamente ao que tantas vezes se faz, é em alturas de crise económica que mais se deve investir nas pessoas, na sua educação e saúde, na sua participação social e no seu empreendedorismo. Se não podemos sonhar (mesmo que apenas um bocadinho) com o nosso futuro, o que nos faz mexer?
E quais são as expectativas, ao nível dos outputs a retirar do reunião de trabalho da rede de 44 países que integram o estudo HBSC?
Os investigadores que estão na Gulbenkian estão muito interessados com o nosso movimento Dream teens, e alguns até vêm mais cedo para Portugal para assistir ao evento de dia 1 como observadores.
Especificamente na reunião do HBSC, iremos falar da colaboração da rede com a UNICEF para o relatório da influência da recessão na Europa na saúde e bem-estar dos adolescentes, analisando a saúde de grupos específicos: doença crónica, migrantes, desigualdades de género, desigualdades sociais, etc.
Será anunciada a data de lançamento do relatório internacional, e a professora Candace Currie, da escola de medicina de St. Andrews (Escócia) irá, no último dia, falar da extensão do estudo HBSC a outros países fora da Europa, das repercussões do estudo na melhoria da saúde das crianças e jovens (nomeadamente em países em desenvolvimento), e da importância do estudo para as políticas públicas.
Qual será a dinâmica do projecto Dream Teens em 2016?
A rede está formada. Já se organizou em associação, já está representada em vários conselhos regionais da juventude, já tem reconhecimento (e voz) nacional e internacional.
Nesta fase, fica o livro e fica o desafio da sua continuidade (agora com um Blog e um canal MEO-Dream teens). O projecto vai ainda alargar a rede apoiando uma rede de Dreamers mais velhos (+65 anos, os Dream Yold) e mais novos (- 11 anos, os DreamKids), o que depende também da capacidade de interessar financiadores.
Para expandir o projecto precisamos de colaboradores e de orçamento. O investimento feito na organização destes dois eventos serve exactamente para mostrar um caminho em que acreditamos, e para o qual gostaríamos de ter algum investimento público que nos permita continuar.
Os Dream Teens têm sido uma experiência muitíssimo enriquecedora, quer para os mais jovens, quer para a equipa de intervenção, e vamos apostar em força na sua sustentabilidade.