Liberdade ou Condenação?
Encontro-me com os meus dezoito anos, aparentemente com a vida inteira pela frente, mas tal não significa que as preocupações, por regra, dos mais velhos, não se levantem também na minha mente. A idade não me impede de abordar a questão, e, por esse motivo, hoje vou falar sobre a eutanásia. Falar com vocês e não para vocês, porque a leitura deve ser mais do que uma assimilação de ideias, devendo ser também um estímulo para a discussão e acção.
A primeira pergunta que se coloca remete para o significado da palavra: o que é realmente a eutanásia? O conhecido termo - até aos dias de hoje desprezado - tem surgido recentemente nos meios de comunicação e provocado inquietação junto dos portugueses. A Grécia antiga definiu-a como sendo uma “boa morte”, mas será que essa linha de pensamento ainda se mantém actualmente? Penso que é neste primeiro ponto que encontramos o problema – a definição de algo que se tornou real, visível.
O segundo e último problema que encontrei enquanto aprofundava o meu conhecimento sobre o assunto, foi perceber em que situações é que este acto devia ser realizado. Será que se deve realizar em todo e qualquer caso de doença? Em que casos é que se torna necessária? Em toda e qualquer idade? Não haverá outras soluções? Apresento de seguida as conclusões a que cheguei.
A vida baseia-se em mais do que na simples sobrevivência. Engloba outros conhecidos termos como o amor, o respeito, a dignidade, a liberdade, a mobilidade, o poder de decisão e tantos outros que fazem de nós o ser que somos, o ser que pertence a uma determinada espécie. A vida baseia-se nas emoções e sentimentos, pensamentos e acções; naquilo que nos permite ter uma identidade única, ainda que semelhante à de outros.
Será que a eutanásia finaliza a identidade? Aceitar isso é aceitar que a própria morte o faz, porque têm o mesmo fim. A morte assistida, na qual um médico administra o fármaco letal no paciente, acaba com o sofrimento que este transporta consigo. Não defende, em caso algum, a morte, mas dá ao doente a possibilidade de acabar com o seu sofrimento constante e crescente, surgindo como um último recurso para aqueles que foram condenados sem culpa disso.
Será que a eutanásia revoga o direito à liberdade? Fazendo a liberdade parte das condições mentais e considerando que estas se encontram sãs, decidir morrer e quando morrer é uma vantagem perante a situação de imobilidade ou incapacidade de realizar as actividades diárias por si só, pois mantém o poder e liberdade de decisão na mente de um ser consciente, quando o seu corpo já não consegue responder às necessidades exigidas pela vida (muitas vezes, nem pela sobrevivência). Neste caso, aceitar o sofrimento do corpo será como aceitar o sofrimento da mente. Será como aceitar a morte dolorosa para que a vida se prolongue por mais uns (in)determinados segundos, unicamente com o objectivo de adiar o vazio e tristeza que a morte irá certamente deixar. Mais um caso de egoísmo? Deixo-vos mais esta pergunta. Permitir a eutanásia é permitir que a morte seja ditada pela própria pessoa, voluntária, quando já não existem mais soluções e os únicos factores em jogo são a dor e o tempo.
Será que a eutanásia deve ser realizada em crianças? Talvez esta seja a pergunta que mais dúvidas transporta. Todo e qualquer ser humano tem os mesmos direitos, pelo que as crianças deverão ter as mesmas oportunidades que os adultos no que se refere ao anulamento da dor. Porém, as crianças não têm o mesmo grau de desenvolvimento mental que os adultos, de modo que a consciência do acto em si não existiria. Neste caso, (e tomando-se estes casos como excepcionais) a tomada de decisão deveria ficar a cargo dos pais da criança. O mesmo deveria ser aplicado quando o doente não possui capacidade de decisão, seja por que motivo for.
Por último, comparar a eutanásia ao suicídio e colocar a possibilidade de arrependimento do paciente é não ter consciência da situação deste. O suicídio aparece como uma possível solução para a trituração mental que ainda pode ser tratada se lhe for fornecido o acompanhamento especial, daí ser possível existir mais tarde um arrependimento por parte do doente porque existia mais do que uma solução. Relativamente à eutanásia, esta surge como uma última solução para a dor física e mental que irá inevitavelmente acabar em morte, não sendo passível de arrependimento porque não haveria qualquer outra solução senão esperar a dolorosa morte.
Encontro-me com os meus dezoito anos, aparentemente com a vida inteira pela frente. Mas… e se amanhã tudo mudar? Quero viver num mundo em que este tema tenha sido analisado e debatido, para que se tome uma decisão consciente e voluntária.
Não pretendo ser apenas mais uma opinião, pretendo ter uma voz na sociedade onde vivo. E tu? Já reflectiste?
Texto: Teresa Carreira
Imagem: http://www.elsoldenayarit.mx/site/images/temp_notas/temp_
nota_01_37997_17_20150912162209_117suicidio_asistido.jpg