Sobre a Decorrente Normalização do Discurso de Ódio
“A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada.” -Edmund Burke
Lembro-me ter ouvido um discurso de Obama há relativamente pouco tempo onde que ele criticava Trump. Trump faz cometários misóginos e, como os partidos de extrema-direita europeus, instiga o medo com ataques dirigidos a grupos étnicos, religiosos e raciais. Não é a primeira vez que Obama critica Trump, mas neste discurso em concreto notei que Obama estava particularmente exasperado, referindo que as pessoas já não ligavam tanto às coisas terríveis que Trump dizia. O discurso de ódio *per se* já é repulsivo o suficiente, mas a sua normalização consegue ser ainda mais grave pela sua falta de notoriedade por parte de quem não é atingido.
O pior é que, em alguns grupos, esta normalização já é sentida. A comunidade cigana em Portugal é alvo de injurias desde há anos, mas a sociedade em geral aceita tal como normal. Sinto que estão a ser dados passos contra isso, mas lutar contra algo que está intrínseco na sociedade é mais difícil do que algo que é visto como inaceitável pela generalidade das pessoas, daí a importância de nunca deixarmos de “ligar” a comentários ofensivos só porque são frequentemente utilizados.
A defesa da liberdade de expressão não tem a ver com o discurso de ódio, pois a liberdade de expressão não protege este tipo de discurso, tanto em Portugal como em outros países, por não falar que essa liberdade não inibe as consequências provenientes dos seus atos. A liberdade não pode ser usada para desumanizar, tirando a liberdade a outros.
Por isso defendo que devemos travar estes processos de normalização, não aceitando que o discurso de ódio seja proferido sem critica, senão os perpetradores deste tipo de discurso levarão avante a sua intenção de instalar as suas mensagens de ódio nas sociedades.
-Manuel Magalhães
(Fonte da imagem: http://harvardpolitics.com/blog/wp-content/uploads/2016/04/hate-speech.jpg)