ELEIÇÕES, DESILUSÕES E LIÇÕES
Existem dias maus, suportáveis, mas maus. Depois existem dias como o de hoje, dias em que se erguem muralhas, se fecham janelas e se trancam portas.
Disse, Einstein, da ciência e do exacto, da lógica e do racional, que, e cito, “Há duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana”. Hoje, num ato que teve pouco a que se possa chamar de racional, a estupidez humana viu-se infinita, como já não se afirmava há algum tempo.
Era de manhã e parecia que tudo se integrava na rotina diária, quando me deparei com a notícia de que tinha sido lançada uma nova bomba: a vitória de donald j. trump (e que se faça do seu nome algo tão pequeno quanto os seus ideais). Desde então que sinto a necessidade de expressar o que sinto e o que penso, de gritar, mesmo sabendo e tendo hoje confirmado que o mundo é feito de surdos. Infelizmente, hoje foi dos dias em que mais me faltaram as palavras, pelos motivos também, infelizmente, mais óbvios.
Se existe algo que aprendi com o tempo é que temos de saber lidar com as desilusões, mas nunca me ensinaram a lidar com isto. Um líder, por si só, é o reflexo daqueles que o elegeram e eu, principalmente enquanto mulher e posteriormente enquanto Homem, recuso-me a aceitar que uma grande parte da população mundial ainda se faça reger por pensamentos e acções machistas, xenófobos, homofóbicos, transfóbicos, racistas, entre tantos outros semelhantes ou superiormente ignorantes. Como pôde Trump chegar e, além de marcar presença, ficar? Como pôde uma campanha eleitoral que tinha tudo para ser ruidosa, fazer mais do que apenas barulho de fundo e chamar tanta gente para a ouvir e seguir? Entre nacionalismos e desejos de voltar aos “bons velhos tempos”; entre falta de identidades e facilitismo perante influências; entre aquilo que os Media dizem e aquilo que incutem. Entre estes e outros mares de opiniões e mentes, estão os votos que deram a vitória a trump. Estão os votos que derrotaram Democratas e aquilo que restou de um mundo consciente e, agora, receoso.
Parece-me que a partir deste momento vivemos num mundo de extremos, numa transformação constante entre a comédia e o terror, mas numa construção crescente de ódio e medo. Vejo-me dentro de uma máquina do tempo, que para além de nos fazer recuar vários anos, faz com que tantas lutas e conquistas pela igualdade sejam, agora, suprimidas. Ao mesmo tempo, vejo erguerem-se, de novo, guerras contra estes mesmos direitos e, eventualmente, outras tanto ou mais violentas e abrangentes.
Para finalizar a onda de contradições que até agora tem sido de difícil compreensão, deixo a notícia de que, também hoje, foi dia de comemoração dos 27 anos desde a queda do muro de Berlim, enquanto é prometida a construção de outros tantos que demarcam, não só, a divisão entre o homem branco, heterossexual e preconceituoso de todos os outros que lhe são diferentes, como também a divisão entre diferentes nações.
Sinceramente não sei o que é pior: se a construção de muros físicos ou a construção de muros mentais. E questiono, por último, quantos de nós ainda têm voz para se juntar ao grito que quer, apesar de tudo, sempre crescer.
- Sara Fialho e Teresa Carreira
(Fonte da imagem: https://www.facebook.com/comunidadeculturarte/photos/a.863113933715140.1073741828.863016237058243/1503365293023331/?type=3&theater)