I conferencia da Juventude- Vila Nova de Gaia
“Participação significa ter um envolvimento, ter tarefas e assumir responsabilidades. Significa ter acesso e ser incluído ou incluída”
“FAZ-TE OUVIR! Manual, Edições Dinamo
“A política de juventude deverá ter como objectivos prioritários o desenvolvimento da personalidade dos jovens, a criação de condições para a sua efetiva integração na vida ativa, o gosto pela criação livre e o sentido de serviço à comunidade.”
Artigo 70º, Constituição da república Portuguesa
Reuniu-se nos passados dias 18 e 19 de Maio para debater a juventude, em Gaia, concretizando, assim, a I Conferência da Juventude de Gaia. Começou por se apresentar alguns projetos de juventude, tanto a nível local, como a nível nacional, dando-se destaque aos jovens, ao quão importante é a sua ativação e o seu papel no futuro pela voz do presidente da câmara de Gaia, pela representação do projeto Erasmus + e pela representação do IPDJ.
Ainda numa primeira parte, disse Tiago Rego, do Associativismo Jovem, que a participação de jovens é essencial para a criação de competências e valores. Alertou para o facto de que a juventude e as suas necessidades não são, de todo, estáticas, estando, pelo contrário, em constante evolução, precisando portanto de projetos e de motivações distintas ao longo do tempo. De comunicações e de métodos diferentes - como é que se chega aos jovens?
Por fim, por parte do Conselho Nacional de Jovens, falou Hugo Carvalho, que com um discurso um pouco mais polémico deixou algumas perguntas no ar: o que andamos, afinal, a fazer?; o que é a juventude?; o que é preciso mudar e quais as prioridades de cada ano? Sublinhou ainda o facto de ser importante que estes projetos aconteçam de jovens para jovens e de que a sua visão muda, ao longo do tempo (como já tinha referido Tiago Rego). Disse que não é o ter, é o ser; não é a existência de direitos, mas sim a sua aplicação; é preciso questionar as pessoas e provocar reflexões.
No que se seguiu do dia, houve apresentação de vários e variados projetos de, por e para jovens em Gaia. De entre tudo, destaca-se a aprendizagem em conjunto (entre pares) e o benefício para ambas as partes, em qualquer projeto, o facto das mudanças comportamentais serem demoradas e o querer de jovens motivados, curiosos, envolvidos, determinados.
Seguiu-se o segundo dia da Conferência, o qual se focou numa aprendizagem para a educação informal, com participação em dois diferentes workshops.
Numa fase inicial foi feita uma master class informal onde estavam à disposição vários jogos sem instruções nenhumas, com o objectivo de mostrar a nós mesmos até que ponto seríamos capazes de completar o que nos era pedido. Fomos divididos em grupos e fomos resolvendo os jogos da melhor forma que sabíamos: uns com mais conhecimento, outros com menos, ou até mesmo com ajuda de outros grupos que foram aparecendo aleatoriamente.
Chegamos à conclusão que não seria necessário seguirmos o gameplay original, porque de uma forma ou de outra conseguimos completar os desafios. Tudo isto para mostrar que a aprendizagem entre pares é muito importante porque nos proporciona:
- Aprendizagem experimental e voluntária;
- Facilitação num ambiente seguro, estrutural e participativo com uma vertente educativa e crescimento no meio;
- Focado nas necessidades de quem aprende onde o grupo é o centro da aprendizagem;
- Flexibilidade;
Depois demos, então, início aos workshops onde apresentámos as nossas preocupações enquanto técnicos que trabalham com jovens e, de uma forma geral foi mencionado várias vezes a falta de interesse por parte dos jovens, o que nos leva também a refletir sobre o que está a falhar: estamos perante a geração do ter, quando deveríamos pensar em ser.
Enquanto jovens não sentimos que o ter faça de nós pessoas mais instruída, valorizadas no mercado de trabalho, ou com maior destreza para resolver determinados problemas - até pelo contrário, nem sempre serão as “posses” que nos definiram como pessoas.
Passámos à construção de um nosso “ Chão comum” em que, na forma de debate temático, a fim de resposta a diversas afirmações, nos aproximámos e entendemos como, no geral, havia um fio condutor, mesmo entre as opiniões, primariamente, opostas.
Numa fase seguinte, tivemos de responder ao desafio: “Estas três pessoas encontraram esta melancia ao mesmo tempo e cada uma quer a melancia só para ela, cabe ao grupo decidir quem fica com a melancia”. Instalou-se o silêncio na sala, interrompido pelo argumento de que não se conseguia ser egoísta e se questiona se realmente o problema tem mesmo que ser resolvido desta forma. Seguem-se as restantes argumentações e o grupo decide que a escolha deve ser feita através de quem irá tirar melhor usufruto da melancia. Seguiram-se bastantes silêncios, algumas quantas falácias e argumentos disparatados, sentimento de revolta, injustiça e ações mais ou menos inesperadas. Ao transpormos a situação para o real, percebemos o quão nos era familiar, por tantas vezes dependermos pouco de nós nas decisões de que fazemos parte, ou que, não fazendo, nos implicam diretamente.
Foram-nos apresentadas algumas visões acerca do que é a participação jovem, do que é o nosso papel nessa participação: trabalhamos na Escada de Hart onde os jovens estão distribuídos da seguinte forma:
1- Jovens manipulados (Não participam);
2- Jovens como decoração (Não participam);
3 - Jovens com participação simbólica (Não participam);
4- Jovens designados e informados;
5- Jovens consultados e participação informada;
6- Ações iniciadas por adultos e decisões partilhadas com jovens;
7-Ações iniciadas e implementadas por jovens;
8- Partilha na tomada de decisões;
e foi-nos apresentada a estratégia OMEDA com os seguinte tópicos:
- Oportunidade;
- Meios (Recursos);
- Espaço;
- Direito;
- Apoios (Físicos, Financeiros, Moral);
Seguido de algumas técnicas de co-gestão:
- Preparação;
- Encontrar aliados;
- Abordar um potencial parceiro de cogestão;
- Definir objectivos, áreas de responsabilidade e formas de trabalhos;
- Avaliar recursos necessários;
- Planear a fase introdutória;
- Lançar o estabelecimento do sistema de cogestão;
Tudo isto, de forma a entendermos o que podemos melhorar e adaptar nas nossas estratégias interventivas nos projetos que trabalhamos.
Achei este workshop bastante interessante pela forma como foi abordado e todas as temáticas que foram apresentadas.
No workshop sobre Oportunidades de Financiamento e Ferramentas de Gestão, os participantes começaram por se apresentarem. Depois, foram apresentados os componentes de um projeto: Um conjunto de atividades, objetivos, calendário e orçamento.
Criar e manter um projeto passa por identificar o problema do qual o projeto vai resolver, desenhar o projeto, financiar o projeto, implementar o projeto e avaliar o mesmo. Ao longo de todo o processo deve ser feita uma monitorização e revisão do projeto.
Foi desenhada uma “árvore dos problemas” para definir o problema central, os seus respectivos efeitos, as causas diretas e as causas indiretas. Um projeto deve começar por resolver as causas indiretas para, assim, conseguir resolver as causas diretas e acabar ou mitigar o problema central e, por conseguinte, os efeitos. Na árvore, esta sequência é vista de baixo para cima, das causas principais até aos efeitos. No workshop imaginamos que éramos uma instituição jovem que identifica o elevado nº de jovens desempregados como o problema central que o nosso projeto iria resolver.
A “árvore dos objetivos” foi desenhada da mesma forma da dos problemas, mas com diferentes componentes: Um objetivo específico, os objetivos gerais que advêm, os resultados esperados, e as atividades. A ordem, de baixo para cima, é a seguinte: atividades, resultados esperados, objetivo específico e objetivos gerais. Pegamos no exemplo anterior sobre o desemprego jovem e delineamos os objetivos do nosso projeto.
Depois de um intervalo, começamos com a etapa do financiamento. Existem dois tipos de prospeção: Passiva e ativa. A passiva utiliza ferramentas como o Google Alerts e as newsletters de financiadores, enquanto que a ativa utiliza motores de busca de financiamento como o Acegis e envolve a pesquisa por palavras-chave como “fundos” e “prémios”. De seguida, estivemos a analisar um regulamento e a aprender o que devemos ter em atenção, como o prazo, o orçamento, o tipo de projetos que podem participar, entre outras coisas.
Tive, com muita pena minha, de sair mais cedo do workshop por questões de transporte, por isso posso apenas relatar até aqui. Gostei muito do evento e agradeço aos colecionadores do workshop e à equipa do evento.